quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"Portuglês": o novo dialeto corporativo


Dominar o inglês faz tempo que deixou de ser uma opção para se tornar uma obrigação no mundo empresarial, na maioria esmagadora das organizações! Além de necessário, considero bacana pessoas que falam mais de um idioma. Mas um de cada vez. Diferente do que estamos vendo atualmente. O mundo corporativo está falando um verdadeiro dialeto composto de um misto esdrúxulo de português com inglês.

                Não quero de forma alguma parecer anacrônica ou rígida e implacável defensora do nosso idioma, negando as evidências circundantes, a começar pela globalização que veio para ficar.  Seria ignorância de minha parte professar uma linguagem hermética e imutável, blindada a empréstimos e incorporações necessárias que fazem parte desse processo dinâmico de renovação do idioma.  Palavras sofrem constantes influências e consequentes alterações em função de fatores como economia, ciência, organização da sociedade e movimentos sociais, dentre outros.  Estrangeirismos fazem parte desse processo. A escolha do idioma inglês como “universal” nesse mundo globalizado, reflete, certamente, uma dominação econômico e cultural dos EUA. O que não podemos admitir é um empobrecimento do nosso idioma, um dos mais belos da humanidade. Nem permitir deformações escabrosas por conta desse excesso.

                Nas organizações temos visto uma comunicação contaminada. O tal dialeto Portuglês que me soa histriônico, tolo. Vejo estarrecida profissionais cometendo erros crassos da nossa língua pátria e que, no entanto, possuem domínio fantástico da língua do Tio Sam. Pessoas que, por exemplo, cuidam com o maior esmero e atenção da pronúncia correta das palavras em inglês, visando parecer um nativo, mas que cometem erros de pronúncia horrorosos no seu próprio idioma. Em uma apresentação de mais de oito horas de duração de diversos profissionais brasileiros que atuam em uma organização multinacional, por exemplo, constatei que todos adotaram uma pronúncia americanizada da palavra “recorde”, que vem sendo dita récord. O mesmo fenômeno, por sinal, acontece em empresas de rádio e televisão.

                E por falar em televisão, não sei se por ler na mesma cartilha, Aguinaldo Silva, autor da novela das nove, criou seu protagonista, um executivo bem sucedido, brasileiríssimo, de origem humilde que chegou ao topo da carreira, falando despropositadamente palavras em inglês em profusão. O resultado é algo tosco. E, cá para nós, nada diferente do que estamos vendo nas organizações: a inclusão bizarra de palavras inglesas que também sofrem adulterações de arrepiar. E assim ouvimos pessoas dizerem que estão brifando documentos, trackiando outros, solicitando papers, buscando administrar conflitos através de uma abordagem mais friendly, praticando encontros one to one, almejando maior visibility para suas áreas, defendendo seus targets, preocupados com seus pipelines, deadlines e budgets, antenados nos gaps que possam surgir aqui e ali, dando feeds sobre novos conceitos a serem implementados, fazendo constantemente recapts do que viram, lidando em suas rotinas com diferentes moods que possam afetar o entrosamento e por aí vai! Não há limites para a inclusão de words inglesas em suas falas e apresentações. Não precisamos ser radicais a ponto de substituir feedback por retroalimentação, mas fazer essa miscelânea soa arrogante e despropositado! Sem falar que pode comprometer a essência da comunicação, nossa mais valiosa ferramenta de interação interpessoal.

Outra situação que nos chama a atenção nesse universo é o número alarmante de lojas e empreendimentos que optaram por nomes em inglês ou que se utilizam desse idioma para dar seus informes, como chamar “promoção” ou “liquidação” de sale. Um rapaz que presta serviços em minha casa, por exemplo, passou dias tentando explicar em que local ficava a agência bancária em que tinha conta. Insistia em mencionar que era no Frescobol. Intrigados, fomos descobrir no dia em que meu marido ofereceu uma carona, que ele queria dizer Fashion Mall. Alguns representantes dos lojistas no Brasil já alertaram para o fato de que trabalhadores de origem mais simples, como entregadores, referem-se a esses empreendimentos por nomes indecifráveis, como fez meu funcionário, ou por cores das fachadas.


                Esse dialeto bizarro está abastecido de distorções que nem mesmo os dicionários conseguem nos elucidar e situar. Respingos disso vêm contaminando e truncando o significado de palavras do nosso idioma que passaram a ganhar significados errôneos. O mais gritante é o do verbo realizar, que, em português significa constituir; efetuar; elaborar; executar; fazer, mas que vem sendo empregado com o significado de “realize”, em inglês, que corresponde a “perceber”. Assim: “diante daquele problema eu realizei que algo sairia errado”. Ou a adoção do “então” no início da frase como fazem os americanos com o seu “well”. E o que dizer da nefasta utilização do gerundismo que, graças aos céus, saiu de moda? Vamos falar diversos idiomas, mas um de cada vez! 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Por que comemorarmos o Dia do Homem?


   Embora em 15 de julho seja comemorado o Dia do Homem, a data ainda não teve, nem de longe, a mesma projeção que o Dia da Mulher. Importante aproveitarmos a ocasião para refletirmos sobre algumas significativas mudanças que envolvem a classe masculina como consumidores e o impacto que isso está tendo no mercado. 
  O perfil do homem moderno está mudando no mundo todo. E muito! O mercado que envolve a beleza masculina, por exemplo, está em franca expansão. O Brasil já ocupa a segunda posição do ranking de venda de cosméticos para eles, cujo crescimento nos últimos cinco anos foi de 18,3% ficando atrás apenas dos Estados Unidos, segundo pesquisa da Euromonitor, divulgada no estudo de tendências da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). E a projeção é bastante otimista! Mundialmente, o mercado de beleza masculina movimentou em 2012 cerca de US$33,6 bilhões, com uma perspectiva de crescimento superior a 10% ao ano na produção desses produtos.
  Apesar desses índices tão expressivos, ainda são poucas as campanhas voltadas para o Dia dos Homens, embora a classe masculina esteja cada vez mais consciente que uma boa apresentação está diretamente relacionada com seu sucesso pessoal e profissional. E como muitos aderiram aos cuidados com sua imagem, a concorrência cresce a olhos vistos. Uma das marcas que não deixa esse dia passar em branco, já há alguns anos, é O Boticário, que preparou para este ano, mais uma vez, o lançamento de um perfume. 
   Mas não é só na área de cosméticos e beleza que estamos vendo mudanças dessa ordem. Marcas que trabalham com produtos domésticos também estão se voltando para esse mercado, como a Limpanno que lançou uma linha em que um único item pode substituir vários, como o aspirador, a vassoura, o esfregão e o rodo, facilitando a vida dos homens que moram sozinhos.  Em média, 20% de nossos consumidores finais são homens, principalmente nos grandes centros. E esse número vem crescendo. Investimos na mudança do logotipo para ter mais dinamismo entre os públicos. Ainda não temos produtos destinados especificamente para o público masculino, mas pretendemos sim criar algo que atenda a esta demanda conta Alex Buchheim, Diretor-Geral da Limppano, em entrevista ao Mundo do Marketing.
  Estudos da Abihpec indicam que a classe masculina está dando cada vez mais importância à sua apresentação física bem como está se voltando para produtos que facilitem suas vidas, e que tragam facilidades e bem-estar em relação às situações a que estão expostos no dia a dia.
  Embora essas sejam evidências irrefutáveis, ainda vimos que o mercado, de uma maneira geral, está concentrando suas campanhas exclusivamente no Dia dos Pais. Se pararmos para pensar, veremos que pouco tempo atrás, ocorria o mesmo em relação às mulheres: apenas o Dia das Mães era festejado. De lá para cá o perfil feminino mudou e surgiu a demanda de um enfoque também no dia daquelas mulheres que não são mães. Hoje não devemos ignorar toda uma fatia de consumidores que não se encaixam nas campanhas voltadas para aqueles que são pais. Deixar esse mercado de lado pode, portanto, ser um erro, mas todo cuidado é pouco na hora de investir nesse segmento, considerando que este público, de acordo com pesquisas, é mais desconfiado e não gosta de arriscar. 
  E você, o que tem feito em seu segmento para se aproximar desse nicho promissor? Campanhas? Ofertas? Distribuição de amostras? Palestras com dicas de uso do seu produto ou serviço? Pesquisas de opinião?  Pense bem antes de ficar de fora das comemorações do Dia dos Homens. 
  E para todos os homens, meus Parabéns!

Dia do Homem


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Cliente tem sempre invasão

      

     
Dias atrás meu telefone quebrou depois de ter sido arremessado longe pelo rabo do meu cachorro que, espantado, pulou e rosnou para o aparelho como se ele tivesse provocado. Não satisfeito, deu-lhe uma bocada. Apenas para constar, meu cachorro é da raça Dogue Alemão. Saldo do incidente: aparelho babado e trucidado. Como grande parte da população atual lá fui eu para a internet consultar preços e modelos de telefones. Pronto! Desde então ofertas e mais ofertas de todos os tipos e feitios de aparelhos de telefone passaram a infestar meu mundo virtual. Se entro no Facebook lá está um anúncio tentando me fisgar. Abro um site de busca, idem. Vou me distrair com um joguinho no celular e novamente sou escancaradamente assediada.


            Pior foi o caso do Sergio, meu amigo, que comprou um livro de jardinagem em um site para presentear sua avó. De lá pra cá não para de receber mil e uma ofertas de livros similares. E, claro, ele mesmo não dá a mínima para flores, folhas e jardins! Isso acontece porque muitas empresas também controlam as compras de Clientes. A Amazon, site que Sergio comprou o livro para sua avó, usa essas informações para ajudar a recomendar os itens que um Cliente pode querer comprar, mas, como máquina que é, não decodifica adequadamente as informações recebidas. E nem desconfia que o livro não era para ele. Desconhece solenemente que Sergio é um profissional de TI que não tem particularmente, qualquer interesse por flores. Sequer sabe diferenciar uma rosa de uma margarida.  
 
           Paula, minha amiga, sofreu a mesma invasão inoportuna. Seu primo usou seu notebook para comprar uma caixa de vinhos e, desde então, ela, que não coloca uma gota de álcool na boca, recebe infinitas promoções e ofertas de vinhos de todos os cantos do mundo. Uma chatice!


           Não é segredo para ninguém que empresas de tecnologia vendem essas informações para empresas interessadas que se apropriam desses dados para determinar quais anúncios eles devem direcionar a um Cliente específico. Por isso, basta uma consulta sobre um serviço ou produto e você cai nas redes de fornecedores ávidos para te fisgar. O Google, por exemplo, faz isso. Experimente pesquisar hotéis em Genebra que durante muito tempo os anúncios que aparecerão na sua barra lateral toda vez que você entrar no Google serão de? Acertou! Hotéis em Genebra!


           Conhecer ao máximo os seus Clientes é mais do que importante, é crucial para o sucesso de qualquer negócio! Pesquisas de mercado, observações, grupos de controle, testes de campo, todas essas ferramentas vêm sendo empregadas nesse sentido, possibilitando que o perfil dos Clientes seja traçado. Como não poderia deixar de ser, a tecnologia entrou nesse páreo com força total e muitas são as companhias que estão usando a internet para realizar pesquisas sobre seus Clientes. Até aí tudo bem. Acredito até que as que não o fizerem ficarão para trás. O que está começando a ser discutido com muita força e total pertinência é o fator privacidade. Usar essas informações de forma irresponsável ou abusiva pode trazer grandes problemas. As empresas que se utilizam desses recursos devem lembrar que uma das regras para um bom atendimento é tratar as pessoas não como Clientes e sim como pessoas que são. E pessoas, em geral, não gostam de ser espionadas nem assediadas com tamanha veemência. Saber que informações a nosso respeito estão sendo compartilhadas indiscriminadamente e a nossa revelia assusta e aborrece. Em várias partes do mundo, o assunto já está sendo alvo de políticos que, atentos ao problema, têm recomendado leis que garantam que os direitos de privacidade dos usuários de internet sejam protegidos.


          Recentemente (jornal O Globo 4/1/2014) o Facebook foi acusado de monitorar mensagens privadas visando lucrar com a partilha dos dados. A empresa nega, mas está sendo processada. As acusações são que dados apurados nas mensagens são vendidos para anunciantes e profissionais de marketing, o que violaria a lei denominada Eletronic Communications Privacy Act (lei de Privacidade das Comunicações Eletrônicas). Além disso, essa prática estaria desrespeitando o compromisso de segurança e privacidade aos usuários do Facebook. Outras empresas que estão enfrentando acusações semelhantes, segundo a mesma reportagem, seriam o Google, Yahoo e LinkedIn. Cada vez mais os usuários das redes sociais (e quem não é?) estão se dando conta que as informações pessoais estão sendo monitoradas sem seu conhecimento, visando ao lucro às suas custas. Sempre é bom lembrar que a tecnologia está melhorando e pode ser uma excelente aliada nesse processo de conhecimento dos perfis dos Clientes. É uma ferramenta importante e inteligente, mas os Clientes também são. E eles valorizam sua privacidade e gostam de ser respeitados.


Andréa Cordoniz
Psicóloga, Escritora, Consultora de Recursos Humanos, Instrutora de Treinamentos Empresariais e Palestrante. http://www.facebook.com/AndreaCordonizCrescimentoHumano?ref=hl