Estou casada com meu ex-chefe há
mais de 28 anos. Fui casada com outro ex-chefe por seis anos. Antes de nos
casarmos, namoramos. Antes de namorarmos flertamos (o termo soa meio
anacrônico, mas não achei nada melhor. Azaração?). Nunca fui assediada por
nenhum dos dois. Muito pelo contrário. Desde o início as aproximações foram altamente
respeitosas. E mútuas, o que já confere total diferença entre o assédio que é
unilateral. Nos dois casos as interações foram construídas por palavras e
gestos carregados de afetividade e admiração. Outro ponto que diferencia bem
assédio de flerte ou elogio.
Em minha trajetória profissional,
porém, outros tantos chefes e pares com quem convivi, me assediaram. Em momento
algum confundi assédio com flerte. Assédio traz constrangimento. Não sugere
qualquer laivo de admiração ou respeito. No assédio a aproximação se
parece com a de um predador caçando sua
presa para devorá-la e, em seguida sair em busca de nova vítima.
Assédios fazem com que nos
sintamos vulneráveis, humilhados e desrespeitados. São aproximações com palavras
ásperas, rudes e grosseiras, gestos inconcebíveis ou insinuações desagradáveis,
para dizer o mínimo. Em alguns casos até mesmo com atitudes grotescas e
aviltantes como as famosas “passadas de mão”. Disso fui poupada, felizmente. Com
meu temperamento sei que o desfecho teria sido muito infeliz.
Não raro o assédio se dá por
parte de profissionais de um nível hierárquico superior que se sentem no
direito de subjugar seus subordinados com suas investidas. Que se aproveitam de
suas posições dando como certo o silêncio de suas ações, muitas vezes
carregadas de ameaças explícitas ou veladas.
Não compartilho da opinião de que
estamos levando tudo a ferro e fogo e que não se pode mais elogiar ou flertar
alguém no trabalho. Casos como o meu, de pessoas que se casam com colegas ou
chefes de trabalho, são muito comuns. Mas posso apostar que as aproximações,
nesses casos, se deram de forma beeeem diferente. Assédio é assédio. Elogios e
flertes lídimos sempre serão bem-vindos. Fazem com que nos sintamos
lisonjeados. Totalmente diferente de falsos elogios ou galanteios que têm como
único propósito fisgar sua presa.
Um olhar diferenciado do que é ou
não assédio é importante e tende a frear o “pacto de silêncio” que imperava.
Até então, qualquer iniciativa de responder contra as investidas eram
fortemente desencorajadas por todos. Prevalecia o famoso “deixa quieto para não
criar problemas”.
Assédios são praticados por
pessoas prepotentes e desprovidas de empatia. Pessoas que colocam suas vontades
e desejos acima de tudo. Que seguem seus impulsos e tratam seus alvos com
desprezo. Geram repulsa, mas não encaram isso como um freio para suas ações
desagradáveis, inadequadas, deselegantes e constrangedoras. Muitas vezes, inclusive,
sentem um prazer doentio com essa postura deplorável. Seus autores desconhecem
solenemente uma coisa chamada limite. Não estão preocupados ou atentos em como
suas investidas estão sendo recebidas. Simplesmente as disparam. Se acham no
direito de fazer o que fazem. Faltam com respeito e não se dão ao respeito. Se
julgam imunes a qualquer consequência que os atinja de alguma forma. Avançam
sem pudores. São pessoas egocêntricas que visam única e tão somente seu prazer
e se deixam levar por seus impulsos, muitas vezes primitivos.
O que me preocupa nesse cenário
são as pessoas oportunistas que, por vingança ou qualquer outro motivo torpe,
se aproveitam para caluniar pessoas no ambiente de trabalho levianamente,
enfraquecendo, assim, essa causa tão importante e necessária nos dias de hoje.
Estamos todos discutindo algo muito sério que é a ética. E atitudes levianas e
falsas denúncias também ferem a ética.
Andréa Cordoniz
Psicóloga, escritora e Diretora de
Desenvolvimento de Pessoas na BMFC Treinamentos Empresariais.
Janeiro de 2018